O álbum completo de fotos da autoria de Rita Neves pode ser visto aqui. |
A queixa foi entregue com sucesso na Provedoria de Justiça passado algum tempo do meio-dia, com 17 assinaturas de cidadãos que se deslocaram ao local. Sauda-se a prontidão e profissionalismo com que a Provedoria de Justiça deu resposta a todas as perguntas e incidentes que surgiram.
Agradece-se todo o apoio e
encorajamento que foi oferecido por gente de todo o país que defende
que se faça esta justiça elementar: quem não tem rendimentos não
pode ser taxado. Agradece-se também o tempo e esforço dos
jornalistas, que deram um contributo inestimável para chamar atenção
para a situação de injustiça em que vivem meio milhão de
desempregados.
Para aqueles que estão longe de Lisboa
e não puderam comparecer, mas que mesmo assim gostariam de
acrescentar o peso dos seus nomes à queixa, iremos agora tratar de
disponibilizar online o texto da queixa e as instruções de entrega
via internet no site da Provedoria.
aquando da chegada das pessoas, aguardavam-nas cerca de uma dúzia de agentes da PSP. Estavam destacados dois agentes no princípio e dois no fim da rua, que perguntavam às pessoas que passavam se “iam para a manifestação”. Os restantes reuniam-se à volta da Provedoria, com os agentes de patente mais elevada a insistir constantemente que:
- O que estava ali era uma manifestação
- Precisavam de identificar os
responsáveis
- O grupo precisava de ficar a 100m de
distância da Provedoria
- A entrega da queixa seria feita com
escolta policial
- Não podiam tirar fotografias aos
agentes
A troca de palavras foi cordial, embora
revelando alguma irritação ocasional de parte a parte. Como já vem
sendo habitual, os cidadãos precisaram de relembrar a lei a quem
devia zelar por ela para fazer valer os seus direitos:
- Nunca, em momento ou lado algum, foi
anunciado qualquer tipo de manifestação. Foi anunciada a entrega de
uma queixa na Provedoria. Não haviam cartazes, palavras de ordem, a
rua não estava bloqueada, etc. Apenas havia uma congregação pacata
no passeio.
- Uma vez que não era uma
manifestação, a ordem de afastamento de 100m era inválida.
- O pedido de identificação dos
“responsáveis” é ilegal, uma vez que a polícia só pode pedir
identificação caso o visado esteja a cometer ou haja forte suspeita
de vir a cometer um crime (caso em que deve ser identificado ao
sujeito o crime em suspeita).
- Este era um evento público, em
espaço público, com os agentes da PSP a interagirem com o grupo que
ia apresentar queixa, não tendo sido por isso violado o direito à
privacidade e podendo os agentes serem fotografados, já que não
eram os visados mas sim o evento.
Eis que algo ainda mais grave
aconteceu: a polícia impediu o acesso à rua da Provedoria a duas
pessoas que queriam apresentar queixa. A Provedoria foi contactada
por via telefónica e informou de imediato a PSP que tal acto era
completamente ilegal, após o que a PSP deixou as duas pessoas passar
(foi apresentada queixa por uma delas quanto a este assunto).
Durante todo este tempo, a polícia
insistia que apenas cumpria ordens (apesar de ilegais). Este é um
argumento pouco recomendável, tendo em conta que é conhecido por
“Defesa de Nuremberga”, o tribunal onde foram julgados os
criminosos de guerra alemães da Segunda Guerra Mundial. Também eles
alegavam apenas cumprir ordens.
Outro elemento preocupante foi revelado
em conversa com um dos agentes que tentava justificar a acção da
polícia. Disse o agente que, apesar de todos os presentes serem
claramente pacíficos, “quando há certos elementos que anunciam a
sua intenção de comparecer (…) nunca se sabe se [a manifestação]
não ficará violenta”. Fica a pergunta: como sabe ou deixa de
saber a PSP que elementos vão comparecer? Está a PSP a criar bases
de dados de cidadãos politicamente activos? A resposta de que todos
suspeitam há muito tempo é que a PSP monitoriza as redes sociais.
Por fim, a PSP concedeu razão aos
cidadãos presentes (ou simplesmente desistiu, uma vez que ninguém
arredou pé – ou talvez tenha sido a chegada dos jornalistas ao
local). A partir daí tudo decorreu pacificamente e sem incidentes.
Uma força policial terá sempre uma
componente política. No entanto, usa-la assumidamente como arma de
intimidação da acção política dos cidadãos é vergonhoso e
revela bem a falta de legitimidade deste governo e das suas
políticas. Parafraseando Isaac Asimov, a força é o último refúgio
dos incompetentes.
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